RESUMO - NARRATIVAS SOBRE GÊNERO E SEXUALIDADE NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
Robelania dos Santos Gemaque*
Natália Conceição Silva Barros Cavalcanti
*IFPA - E-mail: gemaquerrobelania@gmail.com
Apresenta resultado de pesquisa junto ao Programa de Pós Graduação em Educação Profissional e Tecnológica na instituição associada IFPA-Campus Belém. Construir uma prática educativa sobre Gênero e Sexualidade no Ensino Médio Integrado. Para tanto, definiu-se os seguintes objetivos específicos: a) investigar as narrativas proferidas no ensino médio integrado e seus efeitos sobre os estudantes LGBTI+ b) pautar a temática gênero e sexualidade entre os jovens da EETEPA; c) produzir uma história em quadrinhos sobre gênero, sexualidade e trabalho a partir das discussões e narrativas dos estudantes. Adotamos procedimentos de natureza qualitativa no desenvolvimento das atividades, ancorada na pesquisa narrativa na abordagem defendida por Zaccareli & Godoy (2013 p.27), compreendida como “relatos interpretativos desenvolvidos por um investigador, baseados em entrevista e observação de trabalho de campo (uma estória sobre estórias)” e na pesquisa participante Huguette (2010, p.141), enquanto um “processo que envolve investigação, educação e ação”. Direcionamos o foco central da pesquisa para a existência/ausência do debate sobre gênero e sexualidade no cotidiano na Escola Estadual Professor Francisco das Chagas Ribeiro de Azevedo e as possíveis ocultações, silenciamentos e invisibilidades neste campo de investigação. A utilização das narrativas das/os estudantes, observação participante e entrevista semi-estrutura, orientaram o trabalho de campo e a proposta de uma escrita etnográfica na feitura do trabalho. Participaram da pesquisa dez estudantes do Curso Técnico Design de Interiores integrado ao ensino médio. Na análise dos dados empíricos foi utilizada a Análise Temática Dialógica, na abordagem defendida por Silva e Borges (2017 p. 257). A análise dos dados confirmam e produzem novos significados: a) reafirmam a quase ausência da discussão do tema sexualidade no ensino médio integrado, e pouco conhecimento sobre os direitos das pessoas LGBTI+ na abordagem culturalista/humanista; b) contradições entre o discurso e a prática no tratamento aos estudantes inseridos no espectro LGBTI+; c) há interesse pelo tema por parte dos estudantes e professores; d) emerge o reconhecimento pela importância do tema nas atividades e práticas educativas desenvolvidas no cotidiano escolar, tanto nas palavras dos estudantes, quanto nos enunciados dos professores. Apesar da constatação da invisibilidade do tema sexualidade no cotidiano da escola, existe por parte dos estudantes uma postura de romper o silenciamento, e as tentativas de ocultação e homogeneização das suas presenças no cotidiano escolar. O interesse pelo tema, sugere que há espaço na educação para debater a LGBTI+fobia e contribuir para uma formação humana integral, enquanto questão central para uma educação de qualidade, apoiada na ciência, no trabalho, na cultura e também no afeto.
Palavras-chave: Narrativas, Gênero, Sexualidade, Trabalho, EPT
Parabenizo as autoras pelo texto! Gostaria de saber de vocês quais os desafios sentidos por vocês no trabalho com relacao ao gênero no ensino profissional, tendo em vista as dificuldades, os tabus e a perseguição que a temática sofre? Caio Corrêa Derossi
ResponderExcluirFomos bem recebidas no campo de pesquisa. Percebemos muitos silenciamentos sobre a temática. O mais desafio é superar os discursos e emergir nas práticas, não caindo nas naturalizações, pois, a escola tenta sempre transmitir uma ideia de aceitação ,tolerância, mas que nem sempre é verdade.
ExcluirBom dia Caio. A principal dificuldade está relacionada ao pouco espaço para o debate para o tema no ensino médio, neste caso integrado ao técnico que tem duração de quadro anos. Me causa espanto perceber, a partir da coleta de dados, tanto nos formulários quanto nas rodas de conversa, que o tema só é discutido na segunda fase do componente curricular de Sociologia, e que no planejamento escolar, a temática quando é abordada é somente em março em função das comemorações pelo dia Internacional da Mulher. O trabalho de campo mostrou que são temas que não fazem parte do planejamento escolar, que são debatidos de maneira pontual por um ou outro componente curricular, que no caso da escola em questão apareceu a menção da ocorrência de uma atividade desenvolvida por uma professora de inglês, militante dos direitos das mulheres. desconfio que o silenciamento das abordagens das temáticas gênero e sexualidade enquanto uma construção social, alimenta a invisibilidade estruturante da nossa sociedade e continua a cercear e dificultar a ampliação dos direitos de mulheres e LGBTI+. Precisamos enquanto professores a tomar para nós a tarefa de romper com esses tabus e produzir atividades planejadas, que abordem essas temáticas, independente das datas comemorativas estabelecidas.
ExcluirPrezadas autoras, o tema escolhido é atual e nos permite inúmeras reflexões, que perpassam a família, a escola, os sistemas de ensino e a sociedade de um modo geral. As políticas publicas em torno da diversidade ainda são ínfimas, negligenciando uma parte da população brasileira que fazendo uso do direito ao livre arbítrio optou por outra opção que não aquela que a sociedade convencionou como correta, normal direita... A invisibilidade, muitas vezes é necessária por vivermos em uma sociedade, machista, homofóbica, que exclui ao invés de inclui. Enquanto professora em uma escola de EP vivenciei um aluno (menor de idade) ser expulso de casa por se assumir Gay, as vezes alguns jovens preferem ser invisíveis para não passar por isso. E a escola pouco ajuda ao aluno a superar os desafios que lhe são impostos pela sociedade.
ResponderExcluirBom dia Marly. Sim, considero os temas como vivências, estão relacionados com uma forma de viver e estar no mundo. O trabalho de campo mostrou, que as vivências das pessoas LGBTI+ por vezes não encontram acolhimento na família que apesar de ser a primeira agência de socialização da qual o indivíduo faz parte, é também a primeira a tornar difícil a vivência dos seus membros que não correspondem com as expectativas sociais em relação à orientação sexual, a ponto de contribuir para a saída e dito de outro modo, com a expulsão e nesse sentido, com uma primeira violência em função de sua identidade sexual. A escola, que poderia ser essa agência que viria a contribuir para a superação dessa primeira violência, também silencia a abordagem sobre os temas e invisibiliza as experiências desses sujeitos no cotidiano escolar. O trabalho de campo, mostrou que ainda que a escola não ofereça resistência explícita sobre as abordagens sobre as temáticas gênero e sexualidade, no cotidiano as contradições denunciam o silenciamento e contribui para a invisibilidade. A narrativa corrente de que "dentro" da escola os estudantes são todos iguais e nesse sentido, a escola procura tratar a todes de maneira indiferenciada, entretanto, "dentro da escola", os estudantes devem se comportar de acordo com as normas prescritas pela instituição, na fala de uma professora, "fora" da escola, os estudantes podem ser e fazer o que quiserem, da porta da escola para precisam se ater às regras que regulam o comportamento de todos", registro nessa narrativa a percepção de uma escola-armário, onde o estudantes LGBTI+ ao acessar o espaço, precisa despir-se de suas expressões, gestos, que visibiliza sua orientação sexual e identidade de gênero e vestir as regras impostas e institucionalizada pela heteronormatividade como o padrão a ser seguido. Na trajetória de construção do PE, vivenciei uma experiência com um estudante-participante da pesquisa, em uma atividade de exposição do vídeo intitulado Colorindo. Durante a exposição do vídeo, o estudante que se identifica como heterosesxual-cisgênero-bissexual, permaneceu, inerte, fechado em seus pesamentos, após a exposição realizamos roda de conversa como recurso para o debate sobre a exposição do vídeo, o estudante permaneceu com esse comportamento. os outros estudantes, trouxeram suas reflexões sobre o vídeo, levantaram questões, enquanto ele ficou à margem da discussão. Ao final da atividade, sem saber como agir em relação ao estudante em questão, comecei a organizar os materias utilizados na atividade, desligar os equipamentos, enquanto isso processava como me direcionar para acolher aquele menino, que estava ali, visivelmente em sofrimento. Perguntei para os outros estudantes que partilham com ele o cotidiano na sala de aula, eles acenaram com a cabeça para deixar quieto. Ao final de tudo, fui até o estudante e perguntei se estava tudo bem, ele acenou com a cabeça que sim, e perguntei novamente se ele queria falar, ele acenou novamente com a cabela que não. Então dei um abraço forte nele, e deixei claro que se quisesse falar que oferecia minha escuta. O estudante vive uma relação conflituosa com a mãe por conta da sua orientação sexual, inclusive a mãe não gostava que ele participasse das atividades de produção da HQ. Um dos resultados da pesquisa, aponta para o silenciamento que contribui para a invisibilidade desses estudantes no cotidiano escolar, e da falta de formação para os professores sobre como abordar as temáticas na sala de aula na perspectiva dos direitos humanos. Penso que enquanto professores, precisamos nos formar e tomar para nós a tarefa de acolher pessoas-estudantes LGBTI+, e não ser mais agência de socialização que oprime, maginaliza, ofende e expulsa estudantes por conta de sua orientação sexual. Aprender a ensinar com afeto para romper com os tabus estruturantes da nossa sociedade, que reverberam no cotidiano da sala de aula.
ExcluirSo retificando: Penso que enquanto professores, precisamos nos formar e tomar para nós a tarefa de acolher pessoas-estudantes LGBTI+, e não ser mais uma agência de socialização que oprime, marginaliza, ofende e expulsa estudantes por conta de sua orientação sexual. Aprender a ensinar com afeto para romper com os tabus estruturantes da nossa sociedade, e que reverberam no cotidiano da sala de aula.
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