RESUMO - O REMETENTE COMO DESTINATÁRIO: A CARTA REFLEXIVA COMO DISPOSITIVO BIOGRÁFICO NA PESQUISA EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

Priscila Tiziana Seabra Marques da Silva Aliança*

Andrezza Maria Batista do Nascimento Tavares

*IFRN - E-mail: prialianca@gmail.com


O presente trabalho é parte de uma pesquisa de doutorado em andamento e tem como objetivo debater as potencialidades do que chamaremos “carta reflexiva” como dispositivo biográfico na pesquisa narrativa sobre a docência do professor bacharel atuante na Educação Profissional. Tal discussão é desenvolvida a partir do estudo de “O si mesmo como outro” (RIC¬OEUR, 2014) com vistas à compreensão de como a escrita de uma carta reflexiva pode constituir um dispositivo biográfico relevante para a pesquisa narrativa sobre formação docente. Trata-se de um trabalho de teorização acerca do referido gênero. A pesquisa de doutorado que ora desenvolvemos investiga os saberes docentes construídos pelo professor bacharel ao longo de seu percurso (auto)formativo na Educação Profissional (em particular no Ensino Médio Integrado). Está inserida metodologicamente na abordagem (auto)biográfica em educação e, para dar conta de seu objeto, recorre à escrita de si por meio do gênero epistolar carta como dispositivo biográfico. Entretanto a carta em questão tem uma peculiaridade, que é o fato de os professores colaboradores da pesquisa serem ao mesmo tempo remetentes e destinatários (as cartas serão escritas para um “si” situado no início da caminhada na docência). Assim, dada a necessidade de adjetivar o termo carta, optamos pela expressão “carta reflexiva”, posto que a reflexividade é um fator intrínseco a esse processo de escrita. Ricoeur (2014) aponta três intenções filosóficas de “O si-mesmo como outro”, a saber: (1) “marcar o primado da mediação reflexiva sobre a posição imediata do sujeito” e a possibilidade de opor o “si” ao “eu” (p. XI); (2) dissociar o que ele chama de “identidade idem” à “identidade ipse”; (3) pensar alteridade e ipseidade como um par distinto do anterior. O autor compreende essa “posição imediata do sujeito” a partir da lógica cartesiana que pensa uma subjetividade desancorada, abstrata e absoluta. Como alternativa, ele discute uma subjetividade construída na concretude da ação, ação esta que só pode ser conhecida pela linguagem (a via da narrativa, que mimetiza a ação) – que permite, por sua vez, pensar o “eu” imediato separado do “si” reflexivo. Ricoeur também compreende um núcleo idem (tido como o que permanece) e um núcleo ipse (a porção mutável) da identidade; propõe, ainda que se pense a identidade ipse em oposição à alteridade (o eu/si e o outro). Com base nessas intenções filosóficas é possível pensar a carta reflexiva como dispositivo biográfico que tem o potencial de mobilizar o processo mimético da ação (narrativa) e de deixar entrever como os sujeitos darão conta de lidarem consigo mesmos numa relação reflexiva que emula uma relação com um outro. É nesse vislumbre que esperamos conseguir compreender os saberes docentes dos sujeitos da pesquisa.


Palavras-chave: Docente bacharel; hermenêutica do si; pesquisa narrativa


Comentários

  1. Cara professora Priscila, tive a oportunidade de assistir a sua defesa de Mestrado, pois tínhamos o mesmo orientador, o professor Chagas.
    Vejo que está ampliando o escopo da sua dissertação. Desejo-lhe um excelente desempenho em sua pesquisa de Doutorado!
    Um abraço!

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