RESUMO - A VULGARIZAÇÃO DAS CIÊNCIAS PARA A CLASSE TRABALHADORA: O CASO DA COLEÇÃO BIBLIOTHECA DO POVO E DAS ESCOLAS (LISBOA-RIO DE JANEIRO, 1881-1913)
Josiane Silva de Alcântara*
*FIOCRUZ - E-mail: josi.alcantara@gmail.com
No contexto brasileiro, a partir de 1870, percebe-se a intensificação dos debates sobre a oferta de instrução popular para a formação de trabalhadores livres que substituiriam a mão de obra escravizada. Nas páginas de jornais que cobriam as discussões das elites políticas brasileiras, a questão da educação profissional figura como um caminho para capacitar os indivíduos na atuação junto à lavoura ou no desempenho de ofícios urbanos. A base dessa formação -- segundo a visão de integrantes de instituições como a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, por exemplo -- seria a educação moral, cívica e científica, especialmente dos campos da história natural, da matemática e das ciências físico-químicas, vistos como primordiais para ‘regenerar’ os corpos e mentes das ‘classes laboriosas’. Além das discussões sobre a oferta de instituições e currículos para o ensino teórico e prático do mundo do trabalho, a questão dos livros figura como um componente igualmente relevante. Na perspectiva de diferentes intelectuais, era importante a produção de manuais e compêndios com o propósito de instruir os grupos populares e, também, preencher o ócio com impressos que não propagam ideias que poderiam abalar a estrutura social vigente. Nosso propósito nesta apresentação é analisar a coleção de livros de ciência intitulada “Bibliotheca do Povo e das Escolas” (BPE), produzida pelo editor português David Corazzi e dirigida pelo médico Xavier da Cunha. Esse conjunto de fascículos circulou nos territórios de Brasil e Portugal durante 32 anos -- com altos e baixos em sua vida editorial -- e era vista como um programa de instrução para operários, estudantes e chefes de família. Durante esse percurso, a coleção teve 237 títulos publicados e era publicizada como um projeto robusto de vulgarização das ciências associada ao mundo do trabalho, que deveria ser adotado por liceus e escolas profissionais brasileiras e portuguesas. Nosso intuito é analisar essa coleção inserida no circuito das publicações pedagógicas, atentando para os seus elementos gráficos e a conjuntura sociocultural para sua circulação, tendo em vista as especificidades históricas do ambiente editorial brasileiro e da emergência da educação para as classes populares como uma questão nacional. Nossa análise utiliza o aporte teórico-metodológico da História das Ciências, para analisar as formas de comunicação e circulação das ciências em contextos sociais específicos; e da História Cultural, ao entender os impressos como objetos dotados de historicidade, espaços simbólicos para a (re)produção de práticas e representações. A análise dessa coleção ainda está em curso, porém podemos apontar que a construção desse conjunto bibliográfico buscou voltar-se para os grupos menos abastados; procurou dialogar diretamente com os currículos pensados para a formação das classes populares e apresentar-se como um repertório científico visto como ‘útil’ e ‘indispensável’ aos trabalhadores.
Palavras-chave: Vulgarização das ciências; História da educação profissional - Brasil; História do livro - Brasil e Portugal; Manuais escolares.
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